Europa falha em colmatar quebra de apoio dos EUA à Ucrânia em 2025, revela estudo: vulnerabilidade financeira e militar de Kiev está a agravar-se

Europa destinou apenas cerca de 4,2 mil milhões de euros em nova assistência desde que Washington encerrou o apoio à Ucrânia, em fevereiro de 2025

Francisco Laranjeira
Dezembro 12, 2025
14:49

A nova análise do Instituto de Kiel revelou esta sexta-feira que os aliados europeus da Ucrânia não estão a compensar a retirada do apoio militar e financeiro dos EUA, segundo dados divulgados pelo ‘Kyiv Post’. As alocações de ajuda para 2025 encontram-se em mínimos desde o início da invasão russa, expondo Kiev a uma crescente fragilidade orçamental e operacional.

A Europa destinou apenas cerca de 4,2 mil milhões de euros em nova assistência desde que Washington encerrou o apoio à Ucrânia, em fevereiro de 2025. O valor fica muito aquém da ajuda americana entretanto retirada. Os dados do Instituto de Kiel mostram ainda que a ajuda não americana está a descer de forma acentuada: de um pico de 20 mil milhões de euros entre abril e junho de 2025 para 11,5 mil milhões de euros entre julho e setembro do mesmo ano.

Christoph Trebesch, responsável pelo Ukraine Support Tracker, alertou que este abrandamento coloca 2025 como “o ano com o menor nível de novas alocações de ajuda desde o início da invasão em grande escala”.

Nórdicos lideram esforço per capita; Espanha e Itália ficam atrás

O estudo mostra uma crescente disparidade dentro da Europa. Dinamarca, Estónia e Lituânia são os países que mais contribuem em percentagem do PIB, com valores entre 2,8% e 3,3%. Em contraste, grandes economias como Espanha e Itália apresentam níveis de contribuição mais baixos, equivalentes a 0,62% e 0,74% do PIB, respetivamente.

Taro Nishikawa, também do Ukraine Support Tracker, classificou este desequilíbrio como um “revés notável”, insistindo na necessidade de uma distribuição mais equilibrada entre Estados europeus.

Aumento significativo exigido para substituir apoio americano

Para que os aliados consigam colmatar a ausência dos EUA, seria necessário quase duplicar o esforço financeiro médio para cerca de 0,21% do PIB europeu, conclui o Instituto de Kiel.

Em termos bilaterais, as estimativas sugerem aumentos substanciais:

– A UE teria de passar de 6 mil milhões para 9 mil milhões de euros;

– O Reino Unido de 5 mil milhões para 6,5 mil milhões;

– França de 1,5 mil milhões para 6 mil milhões;

– Itália de 800 milhões para 4,5 mil milhões;

– Espanha de 500 milhões para 3 mil milhões.

O ‘Kyiv Post’ calcula que tal esforço representaria um acréscimo anual aproximado de 96 a 97 euros por contribuinte italiano e de 46 a 47 euros por contribuinte britânico.

Para além da pressão financeira, o Instituto de Kiel assinala um problema adicional: a Ucrânia perdeu o acesso direto a armamento avançado fabricado nos EUA, como os sistemas HIMARS/M270 e Patriot, utilizados para provocar perdas significativas às forças russas. A indústria europeia não tem capacidade para substituir estes sistemas em escala relevante.

Expectativa de novos fundos via programa PURL

Volodymyr Zelensky afirmou esperar entre 13,8 e 14,7 mil milhões de euros através da Lista de Requisitos Prioritários da Ucrânia (PURL), mecanismo que permite o fornecimento de armamento americano mediante financiamento integral dos países da NATO, acrescido de 10%.

Mark Rutte, secretário-geral da NATO, apelou a mais contribuições, notando que a Ucrânia já recebeu 75% dos mísseis Patriot e 90% de outros mísseis de defesa aérea previstos para 2025. O PURL deverá totalizar 4,6 mil milhões de euros até final deste ano.

Pressão orçamental interna agrava desafios de Kiev

O estudo destaca ainda a dependência da Ucrânia de financiamento externo para sustentar um orçamento nacional de cerca de 88,4 mil milhões de euros. As receitas internas variam entre 46,3 e 52,8 mil milhões, deixando um défice aproximado de 36 mil milhões, equivalente a 42% da despesa total, coberto por doações e empréstimos de aliados.

Em crises anteriores, Kiev cortou despesas sociais para privilegiar o esforço de Defesa. O pagamento atempado dos salários a um exército de cerca de um milhão de militares permanece um ponto crítico da gestão orçamental.

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